sábado, 10 de janeiro de 2009

Desafios trabalhistas na pós-modernidade.

Os jornais estão cheios de notícias e com muito pouco de política. Política pública propriamente dita. Sobreviveram nesta nossa recente democracia apenas duas facetas: o denuncismo moralista, clonado da Roma antiga e as perversas práticas de conluio entre o poder público e as grandes empreiteiras - que aterraram no Brasil após a construção de Brasília.

Estas facetas como que se transformaram em ideologias únicas e seduzem muitos e muitos em todos os pólos. Mas a juventude não gosta de uma e tem nojo da outra. No Brasil e no mundo os jovens desejam e cobram a sua participação.Mas, os assuntos da pauta politiqueira não são os assuntos que eles, jovens, gostariam de debater.Temas candentes como adoção de software livre, genética, nanotecnologia e robótica devem ficar sempre para “as próximas reuniões”.

Mas queiramos ou não, serão as decisões sobre temas como estes que conformarão as novas relações de produção e do ambiente trabalhista.Fugir deles é como fugir da construção do”Brasil, país do futuro”(*) Falar de tempos onde o presidente necessitava empurrar o carro do ministro da fazenda, parece uma piada. Mas isto não aconteceu há muito tempo aconteceu durante a elaboração do Plano Real.

O carro quebrado era um Lada, do ministro Fernando Henrique, o presidente que fez este histórico esforço físico foi o Itamar Franco. No livro O sino do meio eu enalteço a grandeza de Itamar - que as elites gautâmicas chamam de caipira - mas acontece que este país deve quase tudo aos caipiras e talvez ignore isto.Estudei em uma das poucas universidades caipiras do Brasil e por isto não temo o modo de pensar interiorano. A frase que mais meu deu prazer de ouvir, em uma assembléia de eletricitários de Paulo Afonso, foi proferida por um experiente, e sinergético, catingueiro:- “Nós trabalhadores temos que deixar de enveredar por estas pequenas trilhas de bodes, temos é que percorrer as grandes avenidas.”Ele, o catingueiro com trajes rústicos e mãos calosas ,que em qualquer palácio seria alcunhado de caipira, intuía a política que merecemos formular e desfrutar.O povo não teme tomar decisões, entre dores e alegrias faz isto a todo o momento. Quem foge das decisões são os que ganham com os seus adiamentos e, é claro, todo grupo adversário de nosso sucesso.

Estes nossos figurões só se dizem modernos para poder, em seus retiros privados, aproveitar de suas práticas muito mais atreladas ao passado, do que as que eles denominam caipiras. Mas as soluções, deixadas a cargo dos caipiras e tabaréus, não são de se jogar fora. Além da pecuária, borracha, cacau, café, soja, mamona e álcool estão aí para silenciar os preconceituosos.

O país resolve seus desafios conforme eles se apresentam, os jovens fazem isto, os países jovens também fazem isto.Em épocas passadas soubemos resolver com grandes estadistas as questões do petróleo e da energia elétrica, e mais recentemente a questão da inflação. A atual calmaria econômica deve ser aproveitada para listarmos e priorizarmos os problemas que merecem serem resolvidos imediatamente. As questões ligadas ao meio ambiente, aquecimento global e às futuras fontes de energia devem – em minha opinião encabeçar a lista. No dilema entre construir mais hidrelétricas ou optar por usinas nucleares a população terá que ser ouvida terá que participar.

O pessoal simples do interior quando tem um problema o resolve em comunidade. Istoé coisa de caipira dirão uns, isto é inviável tecnicamente dirão outros.Tudo isto é medo de ouvir e,ou, preguiça de decidir.Já temos tecnologia para abarcar a coleta de milhares de opiniões e todo jovem sabe disto.Acontece que o nosso país tem dimensões gigantes, gente dispersa e diversificada e muitos, muitos adversários formidáveis.Romper a nossa inércia urge.Só a questão da água pode exigir agenda para dezenas de fóruns.Os dois rios maiores em volume d’água atravessam o nosso território – Negro e Amazonas- e ainda temos as preocupações com o Aqüífero Guarani que merece outros tantos eventos, junto ao Cone Sul.

Pautados em modelos de fazendas e usinas açucareiras escravocratas a maioria de nossos governantes, que se diz moderna, vive com medo e com temor de seus vizinhos.E, por querer decidir tudo sozinha, nada consegue implementar de forma que se considere aceitável.

Perdidos neste mar de paradigmas novos os partidos políticos, criados sem conhecer os poderes do homem-massa de Ortega Y Gasset, julgam que são advogados dos contribuintes e teimam em adiar “os julgamentos” de sua clientela; quando o correto era antecipar ao máximo as decisões.Decidir, decidir e decidir.

Mas nossos dirigentes partidários ou não, que se agasalham no imobilismo legal, tem duas defesas fortes para as suas práticas: a primeira é constatar que as macro-soluções ambientais e energéticas terão que ser tomadas juntamente com os países e povos vizinhos do Brasil (*) - naquela base de conversa, caipira, do interior.E a segunda é a desculpa de que o nosso povo é pouco escolarizado, uma verdade verdadeira e amarga.Mas o trabalhismo de Darcy Ribeiro e Brizola –caipiras fazedores incomparáveis- nunca olvidou da educação e soube sempre oferecer alternativas para este desafiante tema. Com as novas tecnologias de informação e comunicação uma nova faceta pode e deve aflorar, e provavelmente estas vozes caipiras passem a ser ouvidas; como nunca.O fio da história não foi interrompido e a fibra ótica pode ser sua aliada neste competitivo forró internacional que estamos inseridos.

Feliciano Tavares Monteiro - filiado ao PDT desde 1990, encabeçou a tese, aprovada no congresso do PDT-1992, de intercâmbio trabalhista com os povos e países do Mercosul. Graduo-se na Universidade de Santa Maria/RS, a primeira com campus no interior do Brasil e a receber estudantes, conveniados, da América Latina.

(*) Nome da obra de Stefen Zwig
SSA, 26 de maio de 07- vinte e sete anos do Partido Democrático Trabalhista

Por: Feliciano Monteiro
Sócio COOTRADE
Fev/2008

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