sábado, 10 de janeiro de 2009

11 ANOS SEM O GÊNIO DA RAÇA

É carnaval em Salvador e os trios, afoxés e a Mudança do Garcia estão nas ruas. Mas nas maiores cidades do país os olhos estão voltados para as imagens que brotam dos sambódromos.E é sobre o “ inventor” do sambódromo, cuja ausência completa hoje 10 anos, que desejamos escrever. Poucos sabem que o sambódromo era apenas um invólucro, um painel, sob o qual se erigiu a mais bela forma de escola já pensada no Brasil - O CIEP’s de Darcy Ribeiro e de Leonel Brizola.

Darcy não está mais entre nós, mas graças a ele o carnaval deixou de ser algo marginal, algo clandestino, para ser admitido nos lares como a maior manifestação de alegria do planeta.O Brasil e o mundo perderam o senador, que para Glauber Rocha era o gênio da raça, em um 17 de fevereiro.O carnaval, para ele, era uma festa integradora das principais raças formadoras da nação e deveria ser, por isto, reverenciada como a maior ópera do mundo - tendo o Brasil como tema.

O jovem mineiro de Montes Claros decidiu deixar de lado o curso de medicina e foi viver, e aprender, com o Marechal Cândido Rondon o humanismo e o respeito à natureza. E esta decisão jovial mudou o Brasil.Os parques indígenas, os seus sessenta livros, o título de doutor pela Sorbone, a LDB, as Universidades de Brasília e Norte Fluminense e o Memorial da América Latina falam bem mais do que qualquer texto.Indianista, agitador cultural, embaixador dos sem países, antropólogo, político, escritor, trabalhista, latino-americanista estes são alguns rótulos que lhe atribuíram - todos incompletos para abarcar a complexa genialidade deste brasileiro ímpar. Darcy escreveu tanto que poucas universidades puderam absorver o amplo espectro de suas pesquisas e ensinamentos.

Como discípulo de Anísio Teixeira Darcy Ribeiro, avistou na educação, e nos dois turnos diários de ensino, o necessário resgate de nossas infância e adolescência.Pois uma folga de um turno para um estudante não é um atalho para o laser, é sim a forma mais fácil de colocar o seu, e o nosso, futuro nas mãos do imponderável - normalmente sob a fiança da contravenção e do crime.

Muitos educadores já descobriram que seria lógico se fazer coincidir a jornada dos pais, que trabalham oito horas diárias, com as jornadas educacionais dos filhos.Esta coincidência de turnos é a alma da concepção dos CIEP’s - estes Centros Educacionais tão criticados e olvidados preconceituosamente.

É até irônico saber que o vizinho Uruguai e a diminuta Cuba possuam coragem, e dotações orçamentárias, para bancar escolas de horário integral; enquanto aqui só viabilizamos este tipo de educação nos seminários religiosos ou em escolas militares. A adesão de nossa juventude ao estilo marginal de vida – por desleixo de nossa elite - aqui ganha a imponente alcunha de evasão escolar. O primeiro ‘médico social’ a identificar e combater, na origem, este mal foi Darcy.

Assim como Leonel Brizola o Darcy Ribeiro está fazendo falta. Está fazendo falta para clamar com voz alta e com o coração tranqüilo que a responsabilidade por crimes e barbáries cometidas por jovens e adolescentes, nada tem a ver com a nossa índole.Mas com uma opção equivocada e trágica feita pelos pensadores, políticos e administradores públicos há cerca de vinte anos atrás.Pois quando se decidiram, preconceituosamente, por só conceder aos jovens de nossas periferias uma escola minguada, com turnos de 4 horas; optaram por deserdar nossa juventude.E fizeram isto em detrimento de um ensino descente, e digno, que os CIEPS proveriam - tolamente amparados em suas visões corporativas, imediatistas e comodistas.

Se alguém pensar em homenagear Darcy Ribeiro, e ele sempre será merecedor, não pense em lhe fazer uma praça ou erigir uma estátua.Mas tenha o cuidado de resgatar o projeto do CIEP’s. A barbárie parece estar à solta, mas sempre haverá espaço para se voltar ao Processo Civilizatório.

Feliciano Tavares Monteiro
Sócio COOTRADE
7/02/2008

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